A ENCE tem o prazer de convidar para o Seminário no dia 03 de novembro:
Maior equidade de gênero na família é igual a maiores intenções de fecundidade? O que revelam as evidências dos países de alta renda e do Brasil
Palestrante: Victor Antunes Leocádio
É Doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde atualmente atua como pesquisador de pós-doutorado. É também pesquisador visitante no Federal Institute for Population Research (BiB) – Alemanha e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG) em exercício na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (SEJUSP-MG).
Dia: 03/11/2025 – segunda-feira
Horário:16 horas.
Por videoconferência através do link: clique aqui
Resumo: A relação entre equidade de gênero na família e (intenções de) fecundidade tem sido objeto de intenso debate internacional. Diversas teorias defendem que sociedades mais equitativas tenderiam a ter maior fecundidade, especialmente em países de alta renda. Nesse contexto, a divisão equilibrada do trabalho doméstico seria vista como um caminho para reduzir o “duplo fardo” das mulheres e incentivar intenções reprodutivas.O seminário discute a complexa relação entre equidade de gênero na família e intenções de fecundidade, articulando evidências de países de alta renda — onde as principais teorias sobre o tema foram formuladas — e do Brasil, um contexto distinto (e de inédita investigação), mas igualmente marcado por baixos níveis de fecundidade. Com base em duas pesquisas recentes, são discutidas explicações teóricas alternativas às interpretações consolidadas na literatura e apresentados novos caminhos analíticos para compreender as transformações nas relações familiares e de gênero.No primeiro artigo (Leocádio et al. 2024), são analisados dados do Generations and Gender Survey (GGS) em dez países europeus de baixa fecundidade, com o objetivo de investigar como diferentes dimensões de equidade de gênero na família — especialmente a divisão das tarefas domésticas (housework) e do cuidado infantil (childcare) — se relacionam com as intenções de ter um segundo filho. Partindo da literatura que identifica uma associação positiva entre essas variáveis, o estudo mostra que essa relação é mais complexa do que o esperado. Os resultados indicam que uma divisão mais equitativa das tarefas domésticas está associada a maiores intenções de fecundidade, enquanto uma divisão menos equitativa do cuidado infantil aparece relacionada a maiores intenções pelo segundo filho. Essa aparente contradição é discutida à luz das diferentes percepções que homens e mulheres atribuem a cada tipo de trabalho não remunerado: enquanto o cuidado infantil tende a ser percebido como uma atividade prazerosa e recompensadora, as tarefas domésticas são frequentemente associadas à sobrecarga e à injustiça. Assim, o estudo propõe uma explicação teórica alternativa, destacando que o significado social e emocional atribuído a essas atividades é central para compreender o vínculo entre equidade de gênero e intenções reprodutivas.No segundo artigo (Leocádio et al. 2025), essa discussão é trazida para o contexto brasileiro, em um estudo que analisa, pela primeira vez, a associação entre equidade de gênero na família e intenções de fecundidade no país. Diante da ausência de uma base de dados nacionalmente representativa que reunisse simultaneamente essas informações, o trabalho adota uma estratégia metodológica inovadora, combinando dados da PNDS (2006) e das PNADs (2006 e 2015) por meio de técnicas de Machine Learning para estimar uma variável proxy da intenção de ter o segundo filho. Diferentemente do estudo focado em países europeus (Leocádio et al. 2024), não foi possível distinguir entre tarefas domésticas (housework) e cuidado infantil (childcare), analisando-se, portanto, a equidade no trabalho doméstico não remunerado total. Os resultados revelam uma associação negativa entre equidade de gênero na família e intenções de fecundidade, contrariando o padrão observado majoritariamente em países de alta renda. Esses resultados são interpretados à luz do atraso relativo do Brasil na primeira fase da revolução de gênero, caracterizada por desigualdades na esfera pública — como na educação, na inserção no mercado de trabalho e na renda. Esse atraso impede o avanço pleno para a segunda fase, centrada nas transformações da esfera privada, especialmente na divisão do trabalho doméstico e no cuidado familiar. Dessa forma, o país ainda não reúne as condições estruturais observadas em contextos mais avançados dessa revolução, nos quais a equidade privada tende a se associar positivamente às intenções reprodutivas. À medida que o Brasil avance rumo a níveis mais elevados de igualdade na esfera pública e se aproxime dos contextos para os quais o arcabouço teórico foi originalmente desenvolvido, novos estudos — idealmente com bases de dados unificadas e mais recentes — poderão oferecer evidências mais robustas e comparáveis, contribuindo para o aprimoramento do debate em países de renda média e baixa fecundidade.
Informações:
Tel.: 2142-4696
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A participação é aberta a todos os docentes, alunos, funcionários do IBGE e ao público em geral.
Coordenação da Pós-Graduação